domingo, 9 de dezembro de 2012

Palindromia...

Sabe aqueles dias que você deita na cama e deita e deita e deita outra vez e não consegue dormir, pois é já são 03:15 da madrugada e nada do Sandman ou qualquer entidade responsável pelo sono, mas dessa vez não os culpo, mas sim  Tim Buckley e o feérico disco Dream Letter (Live in London 1968), as fotos  encontradas na porra dos arquivos recebidos, e também os oito mil em créditos para ligações que expiraram na quinta feira. E na verdade culpo vocês duas também, só para ser mais claro  ( Sim, Sade e Audrey Hepburn, vou  te chamar assim e se achar ruim que se foda-se). Uma vez li que para esquecer era necessário escrever, agora não me lembro se foi em um filme ou um livro mas na duvida vou atribuir a um filme do Woody Allen, bem vamos lá? 


Querida,

Hoje estava pensando na vida. Deitei a cabeça no travesseiro, sem o propósito de dormir, e parei pra pensar. Às vezes os dias passam tão danados que a gente deixa a vida de lado e pensa em um bando de coisas, menos nela.



Parei pra pensar na vida por causa de uma coisa que fiz anteontem. Quem me conhece sabe de longe que cozinhar nunca foi o meu forte (falo aos quatro ventos que sim, eu sei cozinhar) , apesar de já ter morado sozinho e ter que cozinhar de vez em quando sempre. Anteontem o meu macarrão estava estupidamente ruim, muito pior do que o convencional, e só entendi o porquê disso um dia depois. Ontem, quando fui guardar o continente do condimento, descobri que o conteúdo era açúcar e não sal... mais um pequeno desleixo da minha parte em meio a uma maré cotidiana repleta de pequenos deles. 
Pois hoje o meu desleixo doeu na alma. Acho que sou desleixado assim pra um monte de coisa - com os amigos amados e com outras criaturas -, mas ninguém morre por trocar sal por açúcar e a vida vai seguindo o curso, embora desordenada, tosca, mal-enquadrada, como fazem aquelas crianças em fase de aprendizado ao encaixar a toda força o triângulo dentro do quadrado. A diferença é que elas logo aprendem... 
Acho que troquei o sal pelo açúcar em muita coisa na minha vida. Centenas de mancadas tão bobas mas que, negligenciadas, com o passar do tempo viram males sem remédio. Não é de outra forma que nascem os desafetos,os desamores, e um punhado de "des" e até os inimigos, acredite.
Outro dia, há muitos anos, bem uns dezessete , um tio (O mesmo que deu meu primeiro livro do Gabo e o cd do Jeff Buckley)   me disse para que eu me desse 100% em tudo o que eu fizesse, em cada ação praticada, por mais boba ou corriqueira que ela fosse. “Quando estiver lavando pratos, Rafael, esqueça o mundo, e se concentre nos pratos”. Mas acho que só me concentro 100% justamente lavando os pratos. Adoro lavar pratos mas não o resto das vasilhas, não sei se influenciada por essa observação dele ou porque gosto mesmo, ou pelas duas coisas.
Durante esses minutos de pensar na vida, comecei a confabular a respeito de meios de trazer essa reflexão pra o meu cotidiano. Decidi voltar a escrever, assim eu teria algumas horas semanais inteirinhas pra me concentrar no ato de concentrar-se. Acho que buscar a concentração absoluta me ajudará a me concentrar nas outras coisas. E me concentrando mais nas coisas que eu faça certamente farei coisas menos toscas. 
Decidi também comprar um livro de receitas e aprender de fato a cozinhar. Acho que já é hora. Tem gente que tem talento nato; pra maioria, é esforço, como tudo nessa vida. Esse negócio de que falta mão é desculpa de preguiçoso. Não caio mais na minha... Já até pesquisei uns títulos aqui. Vou começar pela Culinária dos Pudins. Amanhã passo na livraria e sigo direto pro supermercado. Ah, se eu aprendo... Em vez de um peso das costas, tiro logo dois...
Pois é, querida, nem todo açúcar alcança o doce, mas com o amargo também se aprende. Espero dessa vez ter aprendido a lição. O tempo dirá e os que cheguem para o almoço prontamente saberão. 
Sim pudim para o almoço.



Açúcar ao que é de açúcar. Sal ao que é de sal.



Um abraço enorme, mas não maior que a saudade,
R.




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